sábado, dezembro 08, 2012

O xadrez está retornando com força às escolas

 Tradução de A.V.Queiroz

Estamos vendo um notável retorno do xadrez às escolas primárias – trinta anos após ter quase desaparecido do cenário das escolas públicas. Nos últimos dois anos, um total de 175 escolas – incluindo aquelas que atendem a algumas das áreas mais carentes do país – reintroduziram o jogo no currículo. A organização sem fins lucrativos por trás desse retorno, a Chess in Schools and Communities (CSC – Xadrez nas Escolas e nas Comunidades), acredita que esse movimento chegará a atingir mil escolas públicas nos próximos três anos.


 
Os estudiosos concordam que o jogo é um grande fator para o aumento da concentração dos alunos, e acreditam que também pode ser usado para melhorar a capacidade em outras áreas, como a matemática. Eles não poderiam traduzir melhor o que pensam do que fez Olivia Kenwright, de 10 anos, numa pausa entre partidas durante uma aula: “É algo que mexe com o cérebro”, disse ela. “É mesmo um ótimo jogo. É muito bom para ajudar com outras matérias.”
 
Olivia estuda na escola primária católica Sagrado Coração, bem no centro de Liverpool – uma das 175 escolas que voltaram a ter o xadrez no currículo. Davidson John, também de dez anos, um menino que trocou o futebol pelo xadrez e agora nem pensa em voltar atrás, diz que concorda com ela. “O xadrez ajuda a resolver problemas”, afirma. De acordo com outro jovem praticante, Callum Philips, de 11 anos, o xadrez “é um jogo calmo”. “É muito tranqüilo”, diz ele. “Eu agora jogo com meu pai e meus avós, em casa.” De acordo com Malcom Pein, coordenador do CSC, essa é uma importante característica do xadrez, dado que as crianças de hoje raramente jogam jogos de tabuleiro com seus pais. “Nós costumávamos jogar banco imobiliário, ludo, todo o tipo de jogo”, diz, “mas hoje só se veem vídeogames e jogos de computador. O xadrez perdeu rapidamente espaço nas escolas públicas quando, em 1980, os professores romperam com o governo e se negaram a realizar atividades paralelas.”
 
Como resultado, o jogo ficou restrito às escolas particulares e foi menosprezado por muitos como uma atividade puramente da classe média. “Se você for a uma escola pública no Reino Unido, a chance é de uma em dez de que eles pratiquem xadrez, e, mesmo que pratiquem, não será de forma organizada”, diz. “E, no entanto, é uma atividade muito fácil de organizar e que custa muito pouco.”
 
John Gorman, técnico de xadrez em escolas de Liverpool, acrescenta: “O xadrez ajuda as crianças a desenvolver sua capacidade de concentração, e além disso elas estão fazendo cálculos enquanto jogam – como, por exemplo, se [em determinada situação] uma torre é [mesmo] mais importante que um peão e o quão importante é a dama. Elas às vezes não percebem que estão praticando uma forma de matemática durante uma partida.”
 
Na Sagrado Coração, uma escola para 180 alunos de uma das áreas mais carentes de Liverpool, todas as crianças têm ou uma hora ou 45 minutos de xadrez por semana – a não ser as crianças muito novas, em seu primeiro ano de escola. Há também um clube de xadrez que se reúne após a escola toda quarta-feira.
 
A escola ganhou um torneio que envolveu todas as escolas de Liverpool – algo que deixou orgulhoso o diretor Charles Daniels, ele próprio um dedicado enxadrista. “Somos apenas uma escola pequena – não vencemos competições de críquete e futebol”, disse. “Essa vitória é algo de que as crianças vão sempre lembrar.” Na próxima semana, um grupo da escola viajará a Londres para ver campeões mundiais de xadrez jogando o 4th London Chess Classic.
 
Enquanto isso, Malcolm Pein está ocupado tentando desfazer a difundida opinião de que o xadrez é um jogo para a classe média. Ele tem encorajado várias pupil referral units¹ e uma instituição para adolescentes infratores a incluir o jogo em suas atividades. “O xadrez tem-se tornado um jogo popular entre as PRU’s”, diz – possivelmente como resultado da influência calmante que exerce sobre os jogadores.” Nos Estados Unidos, o xadrez é também muito praticado em prisões.
 
Pein tem lutado também contra uma cultura que acredita que o xadrez não é uma atividade que precisa de auxílio financeiro (...) O cenário é muito diferente em outros países – na Armênia, por exemplo, país que tem histórico impressionante de produzir equipes campeões mundiais, o xadrez é parte do ensino compulsório. Na França, o governo também investe para difundir o jogo nas escolas.
 
Algumas autoridades do Reino Unido reconhecem a necessidade de promover o xadrez. Em Bristol, por exemplo, ele está presente nas escolas primárias, e Newham, na zona leste de Londres, solicitou ao CSC um projeto para introduzir o xadrez em todas as suas escolas.
 
“O xadrez cresce rapidamente nas escolas uma vez introduzido, porque os diretores em geral se convencem de seu valor,” diz Pein. “O que fazemos é ensiná-lo em sala de aula durante o período escolar. Tradicionalmente, ele tem sido uma atividade extra-escolar.”
 
É fácil de ver por que os diretores logo passam a apoiar o xadrez. Um relatório do mestre de xadrez Jerry Myers a respeito de por que deve ser estimulado nas escolas diz: “Acreditamos que ele contribui diretamente para o desempenho escolar do aluno. O xadrez torna as crianças mais inteligentes.”
 
Em Marina, nos Estados Unidos, um experimento mostrou que após apenas 20 dias de instrução o desempenho escolar dos alunos tinha subido significativamente, com 55% dos alunos mostrando um desempenho melhor.(…)
 
Segundo Daniel, o xadrez tem de competir com os outros elementos do currículo nacional – o que levou muitas escolas a acreditar que não têm tempo para tais atividades. Sob este aspecto, contudo, o entusiasmo dos alunos ao vencer uma competição fez com que o esforço para promovê-lo valesse totalmente a pena, diz. 

Richard Gardner – Sábado, 10 de novembro de 2012
 
The Independent

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